21 de ago. de 2011

Sexto dia na Estrada Real, de São Lourenço a Cunha

O sábado havia chegado e de São Lourenço iríamos direto a Pouso Alto. Seriam 14 Km de ER e tinha a certeza de que desta vez ia ser fácil. Mas uma coisa ficou clara para mim: - Cada um tem a SUA Estrada Real e os anjos ou demônios do caminho vão ajudar a achá-la e você não conseguirá passar nos caminhos que não estejam destinados a você naquele dia.
Acolhedora Pouso Alto
Pela planilha que estudei ficou claro que era só achar o marco próximo da Rodoviária e segui-lo. Chegar na Rodoviária foi fácil com a ajuda do GPS e de informações que ia tendo. Então por que motivo parei na rotatória e perguntei mais uma vez? O sujeito me disse que era de Pouso Alto e que ia para lá e que se eu desse uma carona me mostraria a Estrada Real. A partir deste momento eu desliguei o meu cérebro e acreditei nele. Depois de 5 Km andando no asfalto foi que parei para pensar: - Se o marco era na Rodoviária como podia ser tão longe? Ao questioná-lo ele se fez de ignorante e me mostrou uma estradinha qualquer mais na frente. Onde estava o marco? Não existia e consequentemente não entrei nela. O que fazer? Voltar ou deixá-lo em sua terra? Quem era ele e o que queria não posso afirmar. Era simples e parecia sincero mas também pode ter sido esperto e me enganado. Um demônio para me deixar consciente de que eu tinha de voltar pois não estava conseguindo alcançar todo o meu objetivo. A sorte é que chegamos rápido a Pouso Alto e ele pediu-me para deixá-lo na beira da estrada. Parei em um bar adiante e até a minha esposa, sempre tranquila, estava tensa. Não sabia bem por que?
O fato é que subi até a igreja e daí achei um marco que segui e voltei um pouco no asfalto para reconstruir um pedaço perdido da ER. Deu vontade de começar tudo de novo. Mas nosso lema era ir em frente sempre já que outras oportunidades de conhecer a nossa outra ER vão aparecer com certeza!
A cidade de Pouso Alto se mostrou acolhedora e muito bem cuidada. No bar nem o café, a única coisa que ia comprar, quiseram cobrar. Tive de comprar mais alguma coisa. Este caminho de terra desde São Lourenço ficou nas minhas pendências.

De Pouso Alto fomos para São Sebastião do Rio Verde, oficialmente a 4 Km de distância mas praticamente interligadas. O que havia acontecido era que a ponte que existe entre as cidades havia caído e só na semana anterior o Anastasia, governador de Minas, estivera lá para inaugurar a reconstrução da ponte. Deve ter sabido de minha ida e providenciou o rápido conserto, só pode ser!

Igreja de Capivari
Uma escultura da Estrada Real 
São Sebastião é somente um povoado e rapidamente já nos encontrávamos em uma estrada de terra.



Paramos para perguntar a um cavaleiro que passava como fazíamos para chegar a Capivari e ele nos mostrou a cidade lá no horizonte. Seria fácil vencer somente estes 6 km de distância. Com algumas encruzilhadas meio complicadas e que nos levava a ir com cuidado para não errar, chegamos a Capivari e paramos num café à beira da estrada com algumas esculturas de ferro e uma, principalmente, muito interessante. Era um portal de madeira com os dizeres: "Você está na Estrada Real". Era o tipo de lugar onde tínhamos de parar. Aí conhecemos o escultor que nos falou que alimentava o sonho de ter as suas esculturas espalhadas pelos locais onde os jogos da Copa do Mundo iam se realizar. Sem entender bem a relação, nos concentramos em encontrar o caminho que nos levaria a Itamonte. Ao contrário do que pensei ele não nos ajudou muito. Usei então pela primeira vez o conversor de tensão da bateria do carro para 110V que seria necessário para manter o Notebook ligado e fomos pesquisar nas planilhas que tínhamos  como chegar a Itamonte. O fato é que depois de muitas pesquisas não conseguimos chegar a conclusão nenhuma e fomos para Itamonte pelo asfalto mesmo. Esta não foi uma decisão fácil pois o meu mapa mostrava um pequeno pedaço que deveria ser de trilhas e acreditava que eu já estava preparado para este novo enfrentamento.


A serra por trás de Itamonte
Itamonte tem uma serra maravilhosa que a circunda e uma das pedras é especial pois sobressai das outras e dá o nome à cidade. Prestem bem atenção no meio do morro uma pedra diferente na foto...

Estrada bucólica para Itanhandu
Para sair para Itanhandu a 9 Km dali também não foi fácil. Inicialmente pegamos uma estrada e mesmo seguindo os marcos acabei chegando nas torres de telecomunicações da cidade. Aproveitamos uma vista bonita de lá mas alguns arranhões que o carro recebeu das árvores que invadiam a estrada acabaram não valendo tanto a pena assim.  Na descida notamos que havia uma outra estrada que estava interrompida e que havia sido este o motivo de nosso erro.


Centro de Itanhandu
Tivemos de seguir mais adiante e aí sim pegamos a estrada de terra certa e rumamos para Itanhandu. A distância era somente de 9 Km e fomos devagar numa estradinha bucólica para chegar em uma cidade mais tranquila ainda.







De Itanhandu nos dirigimos então para Passa Quatro a somente 10 Km. Atravessamos rapidamente este trecho sem problemas e em Passa Quatro o que nos chamou a  atenção foi a estação ferroviária que estava cheia de turistas. É que existe ali um passeio de trem pela serra que vai até a Vila do Embau. Estava no maior movimento e conseguimos usufruir daquela alegria e ter vontade de fazer aquele passeio também.





Estação de Passa Quatro
No embalo dos turistas provamos um queijo delicioso feito pelo próprio vendedor da estação. Disse até que tinha aparecido no Globo Rural. Acabei comprando uns queijos e também fiz aqui uma compra marcante. Numa das barracas, que vendia mosaico de vidro, havia um símbolo da Estrada Real que era o chamariz da barraca, até parecendo que não estava à venda. E era aquele que eu queria. Não foi difícil de convencê-lo a me vender e até acredito que a minha satisfação exagerada em encontrá-lo tenha até feito com que o preço se elevasse um pouco. Mas valeu a pena pois foi o melhor souvenir que encontrei da viagem!


Linda a Serra da Mantiqueira

Fizemos o possível para sair de Passa Quatro por estrada de terra mas ficou claro que alguns dos caminhos da Estrada Real seguem o que depois passaram a ser os trilhos das ferrovias. Neste caso, como ela ainda estava ativa tivemos mesmo de seguir pelo asfalto. Mas valeu a pena! As montanhas da Serra da Mantiqueira das proximidades são extremamente bonitas. Não é uma viagem mas um passeio tranquilo por paragens celestiais!

A 1,2 Km da Vila do Embau a ponte caiu
Num dos marcos dos caminhos paramos e perguntamos a uns locais que esperavam a vida passar para onde levava aquela estrada. Eles disseram que era para um sítio qualquer ali perto. Depois, pensando bem, imaginei que aquela estrada deveria levar à Garganta do Embau já que ali estava um marco da Estrada Real. Este, pelo meu mapa, deveria ser o nosso próximo destino que, por este motivo, passou a ser o segundo ponto do mapa que nós não conseguimos atingir. Descobri ai mais um local que devo perseguir para conhecer em breve. Pular cidades deixou de ser um martírio e passou a ser um desafio futuro!

Seguimos em frente na direção da Vila do Embau, já no estado de São Paulo. Estávamos indo bem, encontrando os marcos e as estradinhas de terra que levavam, um pouco mais organizadamente, aos nossos locais. Mas veio a surpresa! De repente nos deparamos com um rio, com a s margens altas e, do outro lado, uma cerca impedindo qualquer tentativa de transpô-lo. O marco da ER ali do lado indicava que a Vila do Embau estava a somente 1,2 Km de distância. A volta que tínhamos de dar para atingi-la era muito grande. Então decidimos que este seria o terceiro local a não ser visitado por nós apesar de termos estado tão perto dele.
Centro de Guaratinguetá
Seguimos então na direção de Guaratinguetá.
Aqui em São Paulo a Estrada Real não está muito bem decidida. Tem várias cidades que se candidatam como participantes mas no meu antigo mapa muito poucas delas são citadas, na verdade Guaratinguetá e Cunha. Isto torna difícil seguir o caminho, principalmente porque quase todas as estradas da região estão asfaltadas. Passei por exemplo em Canas que se apresentava como parte da Estrada Real e tinha na entrada um dos pórticos que vimos por todo o caminho. Mas preferimos tentar fazer o que o mapa nos dizia mas tenho a impressão de que não conseguimos. Chegamos a Guaratinguetá fazendo vários desvios e tentando não passar pelas cidades próximas como Cruzeiro, Lorena  e Cachoeira Paulista. Não foi fácil pois todas as estradas queriam nos levar a elas. Mas acabamos conseguindo e já era mais de quatro e meia da tarde quando finalmente chegamos a Guaratinguetá. Uma cidade bem grande mas que sábado à tarde se apresentava pacata, como toda cidade do interior. O trânsito tranquilo, imaginei, não devia ser assim durante os dias de semana. Aí, mais uma vez, o GPS ajudou bastante e pudemos dar umas boas voltas pela cidade. A igreja deslumbrante não nega a ela a razão de fazer parte da Estrada Real.

Fazenda Jararaca
Para Cunha seriam 47 Km de uma estrada que estava já toda asfaltada e que eu já conhecia. Mas o nosso mapa dizia que ela tinha grande parte de terra ainda. Será? Como num passe de mágica o nosso GPS nos apontava uma estrada que não era o asfalto. Será que pela primeira vez ele ia nos ajudar a achar uma trilha? Acreditei nele e fui seguindo por uma estrada muito bem cuidada que ia margeando um rio.... tudo para ser aquele que os antigos seguiam para levar o ouro para os portos de Paraty. Mas, de repente, a estrada acabou no portão da Fazenda Jararaca. Não teve jeito, foram 5 Km que tivemos de voltar para trás. Mas eu acredito que estávamos na estrada certa apesar de nenhum marco ter aparecido... O mais provável mesmo era que estivéssemos paralelos ao asfalto e o nosso amigo GPS não conseguiu discernir...

Igreja no centro de Cunha
O jeito foi então seguir pela estrada tradicional e, quando chegamos a Cunha, a noite já havia caído. Nós já havíamos passado rapidamente pela cidade em outros tempos mas ficamos somente pelos arredores, próximos da estrada e visitamos alguns Ateliers de cerâmica, uma grande atração na cidade. Desta vez, fomos diretos para o centro e ficamos surpresos com a beleza, tamanho e a idade da cidade. O centro era bem antigo e a cidade muito interessante. Estava acontecendo alguma festa, talvez um casamento, e a praça na frente da igreja estava cheia de gente.

Na praça da Igreja de Cunha a presença da ER
Paramos então para decidir um local para passar a noite. Foi uma decisão diferente desta vez. Ao pesquisar pelo livrinho da Credicard, que nos indicou alguns locais anteriormente, a Pousada Recanto das Girafas se apresentava como um local de luxo, caro e com algumas observações um pouco esnobes, o que não era exatamente o que estávamos procurando para passar a noite naquela viagem. Já no site Hotel In Site que utilizo frequentemente para as minhas pesquisas de locais e que acessei pelo celular,  os indicava como um bom local a preço bom. Foi a minha primeira opção e tive sorte pois havia somente um chalé por causa de desistência. Não podemos esquecer que era sábado à noite, um dia mais difícil de se achar pouso em cidades turísticas. A boa acolhida e simpatia ao telefone tornou fácil a escolha de que seria ali mesmo que ficaríamos. Colocamos o endereço no GPS que nos jogou em uma ruela que estava com um morro desbarrancando mas em 2 minutos já estávamos com o carro na entrada da Pousada. Chegamos e fomos muito bem recebidos pelo casal proprietário. Eles mandaram que deixássemos a mala no quarto e voltássemos para tomar uma cervejinha. Ali, ao lado da piscina, algumas mesas dispostas uma próxima das outras e uma grande mesa de madeira dava o tom de aconchego do local.

Pregando o adesivo de Cunha
Um bonito piano devia ser o de que falavam que era tocado pelo dono nas gostosas noites frias de Cunha. Após um bom papo preliminar e, ao saber que fazíamos a Estrada Real, ele se mostrou um grande conhecedor do assunto já que havia sido Secretário de Turismo. Contou histórias e explicou um pouco a política que envolvia a Estrada Real no Estado de São Paulo o que, de certa forma, traduziu para mim as dificuldades de encontrar o mesmo espírito que encontrei nas Minas Gerais. Insistiu no entanto que eu ia encontrar uma estrada muito ruim no dia seguinte na descida para Paraty. Fiquei tranquilo e feliz pois era isto mesmo que eu estava buscando para meu último dia de aventuras.

Para jantar eles nos indicaram ir à pé até o Baco Restaurante e Adega. Pela praticidade foi o que fizemos mas foi um achado o que encontramos. Dificilmente eu teria subido até ali sem uma boa indicação mas, além de uns risotos excelentes, o Baco possui uma adega climatizada que você visita e escolhe o seu vinho ali mesmo. Rótulos de todos os paladares e bolsos a preços honestos. Muito difícil encontrar esta paridade. Escolhi um Tempranilo espanhol que estava excelente para combinar com o meu risoto e só sinto não ter guardado o seu nome. Na saída, ainda fiz mais uma visita à Adega que, a estas alturas, já havia qualificado como o meu melhor lugar da Estrada Real, e escolhi um Malbec argentino para levar para degustar junto com meus novos amigos.
Suzuki curtindo o ambiente bucólico do Recanto das Girafas

Lá chegando mais uma surpresa agradável. Vários hóspedes haviam descido de seus quartos e estavam ali trocando idéias, já tomando os seus vinhos, numa atmosfera fraternal como já era de se esperar.  Nos reunimos a eles e sentamos em uma mesa onde estava um jornalista que tinha começado em Ribeirão Preto e que era amigo do Datena com quem já trabalhou bastante. Um grande assunto para minha esposa que é sua fã. Foi uma conversa longa e muito interessante sobre muitos assuntos e a Estrada Real sempre presente. Nesta noite, não houve piano apesar de alguns pedidos terem sido feitos em vão.

No outro dia, ao nos levantarmos para o café da manhã, a grande mesa mostrou-se presente. Era nela que o café era servido e todos nós sentávamos como se fosse uma família. As conversas e amizades nasciam naturalmente. Uma grande ideia e um excelente lugar para ir passar uns dias de confraternização com a natureza e as pessoas.
Na hora de ir embora, fomos avisados mais uma vez dos perigos da estrada que estávamos para encontrar e recebi a promessa de um caminho que vai de São Paulo a Cunha por estrada de terra que, prometo, ainda vou cobrar.
Vista de um chalé do Recanto das Girafas

Fomos fazer uma última visita ao centro para conhecê-lo durante o dia quando, de repente, vejo uma loja de adesivos. Já estava meio esquecido desta minha procura devido às dificuldades mas me lembrei que estava em São Paulo. O difícil foi encontrar o adesivo mais bonito e Cunha passou a fazer parte da traseira de meu Suzuki.
Saímos então na direção de Paraty nosso último estágio desta viagem fantástica!







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