14 de ago. de 2011

Quinto dia na ER, de Carrancas a São Lourenço

Fazenda Traituba
Com o olho bem aberto nos preparamos para a próxima referência do mapa, a Fazenda Traituba distante 29 Km em boa estrada de terra. Tudo que sabíamos dela era bem interessante, uma fazenda construída na época do império para uma visita do Imperador D. Pedro I. Acontece que ele voltou a Portugal e a visita nunca chegou a acontecer. Mas o que foi preparado foi grandioso, uma verdadeira fazenda dos grandes senhores da época. Mais tarde, fala-se, ela foi o berço do Mangalarga... Depois tornou-se uma pousada para os viajantes da Estrada Real. Tantas estórias ficaram no passado pois quando lá chegamos ela estava fechada à visitação, informação que eu já havia lido mas que torcia para não ser verdadeira. Tentamos até visitá-la mas um garoto apareceu e nos informou que ela havia sido vendida e que o novo dono não permitia que ninguém entrasse nem para uma pequena visita. Tivemos de dar marcha a ré e só uma foto restou de lembrança daquela grande fazenda.

A próxima parada seria em Cruzília a 36 Km dali com só um pequeno pedaço de asfalto próximo da chegada.

Escola na beira da estrada parada para nos ver passar

No caminho uma situação inusitada. Ao passarmos por um vilarejo em que as crianças jogavam futebol após as aulas, já que as mochilinhas descansavam serenas nas proximidades, todas elas pararam o jogo e se viraram para nos ver passar e acenar. Talvez o único carro visto naqueles dias atravessando aqueles caminhos!

Outra grata surpresa foi encontrar um andarilho, um senhor de Floripa, que havia começado a caminhada desde Diamantina e já estava há 15 dias percorrendo os caminhos da Estrada Real. Paramos para saudá-lo e ele muito simpático explicou rapidamente que começava a jornada todos os dias por volta das 6 horas da manhã e que parava por vota das duas. Eram em torno de 8 horas de caminhada diária. Ele estava muito inteiro e senhor de si. Ante uma brincadeira de querermos dar uma carona para ele, riu e insinuou de ficar com o meu chapéu da Estrada Real de que gostou muito. Rapidamente disse que era o último deste tipo que havia encontrado. Não sabia que depois encontraria uma Loja Virtual que os vende pois talvez até tivesse dado o boné para ele. Ou não? De qualquer forma, fica aqui uma promessa, entre em contato que esta é uma dívida que faço questão de pagar em troca de saber como terminou a sua aventura.

Igreja de Cruzília
Continuamos a nossa busca de ir adiante um pouco mais rápido do que o normal. Neste dia buscava um porto seguro para descansar e garantir que os olhos realmente estivessem curados, garantindo que a nossa jornada chegaria ao término. Estávamos agora nos dirigindo a uma das encruzilhadas antigas da estrada que acabou herdando o nome, Cruzília.

Cruzília é a cidade dos queijos e logo paramos numa loja de fábrica bem na beira da estrada mas não foi fácil ser atendido pois estava lotada com os quatro seguranças de uma transportadora de valores e resolvemos ir comer o queijo no centro da cidade mesmo. Mas a loja é bem montada e com uns queijos que pareciam estar gostosos mas muito caros para serem direto da fábrica...

O centro de Cruzília, cidade pequena e muito pacata, mas bem limpa e com jeito de interior.

Igreja de Baependi
Seguimos então para Baependi uma das mais antigas cidades desta região a 15 Km. Em Baependi demos uma volta na cidade procurando a saída para Caxambu e aí fazendo questão de encontrar a estrada de terra descrita em nosso mapa. Mais uma vez não foi fácil mas conseguimos enfim achá-la com muita conversa com os moradores jovens e velhos da cidade...
De Caxambu a São Lourenço
Caxambu estava a apenas 4 Km e descemos numa bonita avenida em torno do lago e do parque da cidade. A impressão inicial de Caxambu é que está meio decadente dos tempos áureos das cidades das águas de Minas mas na verdade gostaria muito de voltar lá e conhecer os seus detalhes. Por sinal encontramos lá com o caminhão do maestro Arthur Moreira Lima que faria um show naquela noite. Estava em frente ao Palace Hotel Caxambu, uma relíquia viva daqueles tempos, parecendo um palácio sobrenatural. Almoçamos ali perto, bem em frente, no Faustino's, um restaurante que tinha como atração as trutas. Enfim ia matar a minha vontade da noite anterior! O prato estava excelente mas o melhor foi o papo que tivemos com o dono. Inicialmente, ele parecia muito tenso pois o garçom havia faltado naquele dia e ele é que tinha de atender as mesas. Como era um restaurante pequeno e, além de não estar cheio, não havia ninguém apressado, não era necessária a tensão. Mas quando todos foram embora e ele pôde ficar mais a vontade, nos ofereceu o licor de jabuticaba da casa, e então perguntamos sobre o caminho para São Lourenço. Ele pôde então mostrar o interesse e contar que tinha um Fusca velho somente para fazer e percorrer estes caminhos. Sempre era muito bom quando encontrávamos alguém que manifestava interesses como os nossos e eu podia ver naqueles olhos como nos invejavam e gostariam de estar no nosso lugar.

Estação de trem
De Caxambu a São Lourenço foram 22 Km de uma bonita estrada de terra que fizemos devagar e curtindo a paisagem. Neste trecho, enfim, encontramos alguns ciclistas percorrendo a estrada mas que pareciam locais e não de grandes distâncias pois não havia mochilas acompanhando-os.

A chegada a São Lourenço nos apresentou uma cidade que nos impressionou.

Logo na entrada a estação de trem bonita e bem cuidada. Imaginamos que deve ter bonitos passeios pois a Maria-fumaça estava lá ao lado muito bem cuidada. À frente, imensos jacarés e garrafas tamanho grande de águas minerais enfeitavam as esquinas.
Uma parada na Secretaria de Turismo foi simplesmente inócua pois ali nada havia. Mas quando nos dirigimos para o centro da cidade tudo mudou! A cidade está grande e muito bem tratada. Estava no final da tarde cheia de gente. O lago e o parque das águas muito bonito e cheio de atrações. A cidade não lembra em nada a que conheci em minha adolescência. Resolvi que ali ia ficar num hotel perto do lago e com vista. Consultando o nosso guia achamos que uma boa opção seria o Beira Parque e coloquei o GPS para ir para lá. Chegamos rápido mas lá havia um problema pois eles utilizavam a garagem de um outro hotel do grupo chamado Central Parque a uns 3 quarteirões dali.
Nesta altura do caminho, como nós íamos dormir em um hotel e deixar o nosso Suzuki em outro? Além das complicações do transporte das malas achamos que isto não ia dar certo! Tínhamos também a opção do Colonial, ali do lado e em frente ao Lago, mais barato mas parecendo bem mais antigo.

Vista noturna do lago de São Lourenço

Fomos ver como era o Central Parque e, apesar do preço maior, não tivemos dúvidas que neste dia este era o que queríamos. Um prédio moderno e com varandas viradas para o parque é o de que precisávamos para repor as energias.

Diferente dos outros dias quando chegamos ao hotel ainda não havia anoitecido. Foi bom que tive tempo neste dia de dar uma descansada antes de nos prepararmos para sair e conhecer a cidade.

Saímos à noite e descobrimos que pelo menos grande parte da vida noturna de São Lourenço era ali por perto. Andamos até uma rua fechada ao tráfego e com barzinhos ao longo dela. A cidade estava bem animada mas havia uma quantidade grande de pessoas da terceira idade e as músicas de shows que escapavam dos hotéis próximos eram dirigidas a eles. Vando e Roberto Carlos são campeões. O que me decepcionou um pouco foi o serviço dos visualmente bem montados locais espalhados próximos ao parque e da rua fechada. Um deles expunha um recado dizendo que estava à venda bem na porta... Nos apressamos a escolher outro local. Neste outro, só havia uma garrafa de cerveja escura que muito animado o dono nos afirmava que tinha procurado com afinco.
Apesar desta falta de atenção, a noite foi muito agradável e nos divertimos comentando sobre as pessoas que passavam e curtindo o friozinho que apertava.
Comemos uns tira-gostos e uma sopa e voltamos para o hotel onde pudemos aproveitar mais daquela linda vista de nossa varanda.

Fog na manhã de São Lourenço
No outro dia amanheceu com uma neblina que encobria toda a paisagem. De nossa varanda podíamos ver muito pouco da cidade e do bonito lago que estava em nossa frente. Cheguei a pensar no porque de ter uma varanda ser tão importante já que não conseguíamos ver quase nada desde que estávamos ali. Mas como se vê na foto, até o nada pode ser muito interessante quando se está nos caminhos da Estrada Real.

Tomamos um excelente café da manhã e dei uma saída para a minha constante procura de adesivos para enfeitar o nosso Suzuki. Em São Lourenço, eu tinha certeza de que ia achar. Mas que nada!

Nos apressamos então para aprontar as coisas e correr para a nossa próxima jornada. Desta vez, eu pensei, não teria dificuldades. Uma das planilhas que achei na Internet dizia que o marco da Estrada Real era do lado da Estação Rodoviária. Nada mais fácil, desta vez eu sairia desde cedo pela Estrada Real de verdade.

Com jeito de Caminho velho da Estrada Real
O nosso Suzuki estava começando a ficar barreado, notei quando estava colocando as malas nele, com jeito de carro que está andando pelos caminhos velhos.


Um comentário:

  1. Prezado senhor Moacir Ladeira.

    Nós do hotel Central Parque ficamos muito orgulhosos por ter incluído nosso nome e algumas fotos, esperamos ter atendido dentro do seu gosto e nos colocamos a disposição para as próximas viagens.

    Att,
    Hotel Central Parque.

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